quarta-feira, 18 de julho de 2007


Entrevista com Marcos Cavalcanti, especialista em gestão de conhecimento publicada em Zero Hora, em 5 de julho de 2007.
Vale a pena analisar...boa leitura!!!
Equação para dividir conhecimentos
Membro do Novo Clube de Paris, que discute temas como gestão na era do conhecimento, Marcos Cavalcanti esteve em Porto Alegre na terça-feira para falar sobre o assunto durante a oitava edição do Congresso Internacional da Qualidade para a Competitividade.Doutor em informática pela Universidade de Paris e coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cavalcanti é autor de obras e artigos sobre o tema. Abaixo, leia os principais trechos da entrevista que concedeu a Zero Hora:
Zero Hora - A gestão do conhecimento é uma área pouco ou nada trabalhada pelas empresas. Por quê?
Marcos Cavalcanti - Embora várias empresas já tenham trabalhos nesta área, com pessoas para cuidar desses assuntos, como a Petrobras e a Embratel, a maioria ainda ignora o assunto. Existe um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, mostrando que, em 2000, cerca de 55% da riqueza criada no mundo o foi pelo conhecimento, e 45% se dividiam entre terra, capital, trabalho, energia e matéria-prima. Esses cinco fatores são os que a gente chama de fatores de produção, ou seja, aquelas coisas de que sempre se precisou fazer uso para produzir riqueza. Até hoje, sempre aprendemos a gerenciar apenas esses fatores. E a lógica dessa gestão não funciona na economia do conhecimento. Por exemplo, se eu tiver R$ 50 na minha conta bancária e compartilhar esse dinheiro com alguém, essa pessoa vai ficar R$ 25 mais rica, e eu vou ficar R$ 25 mais pobre. Se eu compartilhar capital, eu empobreço, mas o fato de contar para os outros tudo o que sei sobre um assunto não me torna mais pobre de conhecimento. Pelo contrário. Se boa parte das empresas não entender isso, vai acabar não conseguindo competir.
ZH - Com que setor ou área, geralmente, fica a responsabilidade sobre a gestão do conhecimento?
Cavalcanti - Essa é uma área multidisciplinar. Para fazer a gestão do conhecimento, a gente olha quatro dimensões: primeiro para o ambiente de negócios, onde preciso ter informações sobre leis que podem modificar o meu negócio. O segundo é o capital estrutural, são os processos, as maneiras, a marca, a patente. São propriedades da organização, que (delas) pode fazer uso a hora que quiser. O terceiro capital do conhecimento é o capital humano, que são as pessoas. E o quarto capital é o de relacionamento, ou seja, a rede de relacionamentos que a empresa consegue estabelecer. Então, na gestão do conhecimento, você tem de ter gente da área recursos humanos, da área de tecnologia, pessoas com visão estratégica que conheçam o negócio. O profissional que vai atuar como gestor de uma empresa na sociedade do conhecimento é uma pessoa que não está sendo formada, hoje, nas escolas de gestão tradicionais. Tanto que criamos (na Universidade Federal do Rio de Janeiro) uma pós-graduação em gestão do conhecimento e inteligência empresarial.
ZH - Como se compartilha o conhecimento? É por meio da criação de um banco de dados centralizado com informações relevantes, ao qual várias pessoas tenham acesso?
Cavalcanti - Não, dessa forma você vai apenas criar um portal na sua empresa. Vai pedir para todo mundo colocar informações ali e ninguém vai fazê-lo, porque, se não mexer na cultura e nos valores da empresa, se não valorizar a atitude de compartilhar o conhecimento, ninguém vai aderir. Isso só vai acontecer se for estratégico, se for percebido como importante por todos e se as pessoas sentirem que estão ganhando alguma coisa. A tecnologia é só um meio. ZH - As pessoas, em geral, têm medo de dividir o conhecimento e deixar de ser essenciais na organização. Essa é a maior barreira?Cavalcanti - Exatamente. Costumamos dizer que informação é poder, que ao esconder informações dos outros, as pessoas podem se tornar mais poderosas e usar essas informações em seu próprio favor. Quebrar essa lógica, portanto, onde departamentos e pessoas não se comunicam, não é uma questão fácil. Estamos entrando em um mundo onde é cada vez mais difícil esconder a informação.
ZH - É possível apontar que colaboradores são, em geral, mais resistentes em dividir o conhecimento?
Cavalcanti - Em geral, é a gerência de nível intermediário, porque esse funcionário é o que tem mais a perder. O grande gestor é quem manda e pode dizer o que sabe porque ele não se sente ameaçado. Já quem está no nível intermediário teme perder a posição. E, se as coisas mudarem, será porque o grande gestor foi o patrocinador da troca de cultura. ZH - Pode-se afirmar que, quanto maior a empresa, mais necessário é compartilhar as informações? Cavalcanti - Com certeza. Em uma grande empresa, a informação tende a ser muito dispersa. Na Petrobras, por exemplo, é comum eles me chamaram em três lugares diferentes para falar a mesma coisa, me pagando três vezes pela mesma informação, porque a área de produção tem uma pessoa específica, e área de abastecimento tem outra, que não fala com a área de distribuição, e as informações não circulam dentro da empresa. É como se fossem armazenadas muitas coisas, como produtos agrícolas em silos. Em uma grande empresa, há muitos conhecimentos escondidos e isso é uma riqueza não-utilizada.
ZH - Para iniciar um trabalho de gestão do conhecimento, é preciso investimento ou se pode dar os primeiros passos sem desembolsar recurso algum?
Cavalcanti - O fundamental é investir em pessoas. Portanto, você não precisa, necessariamente, gastar dinheiro. Precisa apenas ter as pessoas certas e uma metodologia adequada. Pode fazer muita coisa mesmo sem comprar computador. Normalmente, as pessoas querem logo comprar um software e resolver tudo. Não é um investimento desse tipo que vai mudar a cara da empresa. O que vai funcionar é ter as pessoas certas, com a visão adequada e a metodologia que funcione.
ZH - A gestão do conhecimento é uma área pouco ou nada trabalhada pelas empresas. Por quê?
Marcos Cavalcanti - Embora várias empresas já tenham trabalhos nesta área, com pessoas para cuidar desses assuntos, como a Petrobras e a Embratel, a maioria ainda ignora o assunto. Existe um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, mostrando que, em 2000, cerca de 55% da riqueza criada no mundo o foi pelo conhecimento, e 45% se dividiam entre terra, capital, trabalho, energia e matéria-prima. Esses cinco fatores são os que a gente chama de fatores de produção, ou seja, aquelas coisas de que sempre se precisou fazer uso para produzir riqueza. Até hoje, sempre aprendemos a gerenciar apenas esses fatores. E a lógica dessa gestão não funciona na economia do conhecimento. Por exemplo, se eu tiver R$ 50 na minha conta bancária e compartilhar esse dinheiro com alguém, essa pessoa vai ficar R$ 25 mais rica, e eu vou ficar R$ 25 mais pobre. Se eu compartilhar capital, eu empobreço, mas o fato de contar para os outros tudo o que sei sobre um assunto não me torna mais pobre de conhecimento. Pelo contrário. Se boa parte das empresas não entender isso, vai acabar não conseguindo competir.
ZH - Com que setor ou área, geralmente, fica a responsabilidade sobre a gestão do conhecimento?
Cavalcanti - Essa é uma área multidisciplinar. Para fazer a gestão do conhecimento, a gente olha quatro dimensões: primeiro para o ambiente de negócios, onde preciso ter informações sobre leis que podem modificar o meu negócio. O segundo é o capital estrutural, são os processos, as maneiras, a marca, a patente. São propriedades da organização, que (delas) pode fazer uso a hora que quiser. O terceiro capital do conhecimento é o capital humano, que são as pessoas. E o quarto capital é o de relacionamento, ou seja, a rede de relacionamentos que a empresa consegue estabelecer. Então, na gestão do conhecimento, você tem de ter gente da área recursos humanos, da área de tecnologia, pessoas com visão estratégica que conheçam o negócio. O profissional que vai atuar como gestor de uma empresa na sociedade do conhecimento é uma pessoa que não está sendo formada, hoje, nas escolas de gestão tradicionais. Tanto que criamos (na Universidade Federal do Rio de Janeiro) uma pós-graduação em gestão do conhecimento e inteligência empresarial.
ZH - Como se compartilha o conhecimento? É por meio da criação de um banco de dados centralizado com informações relevantes, ao qual várias pessoas tenham acesso?
Cavalcanti - Não, dessa forma você vai apenas criar um portal na sua empresa. Vai pedir para todo mundo colocar informações ali e ninguém vai fazê-lo, porque, se não mexer na cultura e nos valores da empresa, se não valorizar a atitude de compartilhar o conhecimento, ninguém vai aderir. Isso só vai acontecer se for estratégico, se for percebido como importante por todos e se as pessoas sentirem que estão ganhando alguma coisa. A tecnologia é só um meio.
ZH - As pessoas, em geral, têm medo de dividir o conhecimento e deixar de ser essenciais na organização. Essa é a maior barreira?
Cavalcanti - Exatamente. Costumamos dizer que informação é poder, que ao esconder informações dos outros, as pessoas podem se tornar mais poderosas e usar essas informações em seu próprio favor. Quebrar essa lógica, portanto, onde departamentos e pessoas não se comunicam, não é uma questão fácil. Estamos entrando em um mundo onde é cada vez mais difícil esconder a informação.
ZH - É possível apontar que colaboradores são, em geral, mais resistentes em dividir o conhecimento?
Cavalcanti - Em geral, é a gerência de nível intermediário, porque esse funcionário é o que tem mais a perder. O grande gestor é quem manda e pode dizer o que sabe porque ele não se sente ameaçado. Já quem está no nível intermediário teme perder a posição. E, se as coisas mudarem, será porque o grande gestor foi o patrocinador da troca de cultura. ZH - Pode-se afirmar que, quanto maior a empresa, mais necessário é compartilhar as informações? Cavalcanti - Com certeza. Em uma grande empresa, a informação tende a ser muito dispersa. Na Petrobras, por exemplo, é comum eles me chamaram em três lugares diferentes para falar a mesma coisa, me pagando três vezes pela mesma informação, porque a área de produção tem uma pessoa específica, e área de abastecimento tem outra, que não fala com a área de distribuição, e as informações não circulam dentro da empresa. É como se fossem armazenadas muitas coisas, como produtos agrícolas em silos. Em uma grande empresa, há muitos conhecimentos escondidos e isso é uma riqueza não-utilizada.
ZH - Para iniciar um trabalho de gestão do conhecimento, é preciso investimento ou se pode dar os primeiros passos sem desembolsar recurso algum?
Cavalcanti - O fundamental é investir em pessoas. Portanto, você não precisa, necessariamente, gastar dinheiro. Precisa apenas ter as pessoas certas e uma metodologia adequada. Pode fazer muita coisa mesmo sem comprar computador. Normalmente, as pessoas querem logo comprar um software e resolver tudo. Não é um investimento desse tipo que vai mudar a cara da empresa. O que vai funcionar é ter as pessoas certas, com a visão adequada e a metodologia que funcione.
ZH - A gestão do conhecimento é uma área pouco ou nada trabalhada pelas empresas. Por quê?
Marcos Cavalcanti - Embora várias empresas já tenham trabalhos nesta área, com pessoas para cuidar desses assuntos, como a Petrobras e a Embratel, a maioria ainda ignora o assunto. Existe um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, mostrando que, em 2000, cerca de 55% da riqueza criada no mundo o foi pelo conhecimento, e 45% se dividiam entre terra, capital, trabalho, energia e matéria-prima. Esses cinco fatores são os que a gente chama de fatores de produção, ou seja, aquelas coisas de que sempre se precisou fazer uso para produzir riqueza. Até hoje, sempre aprendemos a gerenciar apenas esses fatores. E a lógica dessa gestão não funciona na economia do conhecimento. Por exemplo, se eu tiver R$ 50 na minha conta bancária e compartilhar esse dinheiro com alguém, essa pessoa vai ficar R$ 25 mais rica, e eu vou ficar R$ 25 mais pobre. Se eu compartilhar capital, eu empobreço, mas o fato de contar para os outros tudo o que sei sobre um assunto não me torna mais pobre de conhecimento. Pelo contrário. Se boa parte das empresas não entender isso, vai acabar não conseguindo competir.
ZH - Com que setor ou área, geralmente, fica a responsabilidade sobre a gestão do conhecimento?
Cavalcanti - Essa é uma área multidisciplinar. Para fazer a gestão do conhecimento, a gente olha quatro dimensões: primeiro para o ambiente de negócios, onde preciso ter informações sobre leis que podem modificar o meu negócio. O segundo é o capital estrutural, são os processos, as maneiras, a marca, a patente. São propriedades da organização, que (delas) pode fazer uso a hora que quiser. O terceiro capital do conhecimento é o capital humano, que são as pessoas. E o quarto capital é o de relacionamento, ou seja, a rede de relacionamentos que a empresa consegue estabelecer. Então, na gestão do conhecimento, você tem de ter gente da área recursos humanos, da área de tecnologia, pessoas com visão estratégica que conheçam o negócio. O profissional que vai atuar como gestor de uma empresa na sociedade do conhecimento é uma pessoa que não está sendo formada, hoje, nas escolas de gestão tradicionais. Tanto que criamos (na Universidade Federal do Rio de Janeiro) uma pós-graduação em gestão do conhecimento e inteligência empresarial.
ZH - Como se compartilha o conhecimento? É por meio da criação de um banco de dados centralizado com informações relevantes, ao qual várias pessoas tenham acesso?
Cavalcanti - Não, dessa forma você vai apenas criar um portal na sua empresa. Vai pedir para todo mundo colocar informações ali e ninguém vai fazê-lo, porque, se não mexer na cultura e nos valores da empresa, se não valorizar a atitude de compartilhar o conhecimento, ninguém vai aderir. Isso só vai acontecer se for estratégico, se for percebido como importante por todos e se as pessoas sentirem que estão ganhando alguma coisa. A tecnologia é só um meio.
ZH - As pessoas, em geral, têm medo de dividir o conhecimento e deixar de ser essenciais na organização. Essa é a maior barreira?
Cavalcanti - Exatamente. Costumamos dizer que informação é poder, que ao esconder informações dos outros, as pessoas podem se tornar mais poderosas e usar essas informações em seu próprio favor. Quebrar essa lógica, portanto, onde departamentos e pessoas não se comunicam, não é uma questão fácil. Estamos entrando em um mundo onde é cada vez mais difícil esconder a informação.
ZH - É possível apontar que colaboradores são, em geral, mais resistentes em dividir o conhecimento?
Cavalcanti - Em geral, é a gerência de nível intermediário, porque esse funcionário é o que tem mais a perder. O grande gestor é quem manda e pode dizer o que sabe porque ele não se sente ameaçado. Já quem está no nível intermediário teme perder a posição. E, se as coisas mudarem, será porque o grande gestor foi o patrocinador da troca de cultura. ZH - Pode-se afirmar que, quanto maior a empresa, mais necessário é compartilhar as informações? Cavalcanti - Com certeza. Em uma grande empresa, a informação tende a ser muito dispersa. Na Petrobras, por exemplo, é comum eles me chamaram em três lugares diferentes para falar a mesma coisa, me pagando três vezes pela mesma informação, porque a área de produção tem uma pessoa específica, e área de abastecimento tem outra, que não fala com a área de distribuição, e as informações não circulam dentro da empresa. É como se fossem armazenadas muitas coisas, como produtos agrícolas em silos. Em uma grande empresa, há muitos conhecimentos escondidos e isso é uma riqueza não-utilizada.
ZH - Para iniciar um trabalho de gestão do conhecimento, é preciso investimento ou se pode dar os primeiros passos sem desembolsar recurso algum?
Cavalcanti - O fundamental é investir em pessoas. Portanto, você não precisa, necessariamente, gastar dinheiro. Precisa apenas ter as pessoas certas e uma metodologia adequada. Pode fazer muita coisa mesmo sem comprar computador. Normalmente, as pessoas querem logo comprar um software e resolver tudo. Não é um investimento desse tipo que vai mudar a cara da empresa. O que vai funcionar é ter as pessoas certas, com a visão adequada e a metodologia que funcione.

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